segunda-feira, 21 de maio de 2012

Organismo como habitat

Por Fabio Dias Magalhães
Texto de apoio para o Curso Por Dentro


Temos cerca de 10 trilhões de células. Mas nosso corpo, além de células próprias, hospeda cerca de 100 trilhões de células bacterianas. Nosso organismo é um habitat, ou melhor, vários habitats que hospeda desde bactérias até possivelmente vermes e ainda artrópodes,como o bicho de pé (um tipo de pulga) e ácaros (um tipo de aracnídeo).
Esses hóspedes desenvolvem várias relações ecológicas entre si e com o hospedeiro. Esses organismos podem não oferecer nenhum benefício para o hospodeiro e também nenhum prejuizo, sendo neutros, comensais. Podem ser prejudiciais por espoliar nutrientes (parasitismo). Ou benéficos, como a microbiota intestinal que produz vitamina K (importante para a coagulação sanguínea) e ainda tem papel na defesa contra agentes infecciosos.
 Bactérias competem entre si, protozoários predam bactérias, bactérias produzem substâncias que matam outras bactérias (amensalismo). O conjunto de relações desarmônicas entre os microorganismos é chamado de antagonismo microbiano, ele favorece o hospedeiro por ser um mecanismo de controle populacional, impedindo proliferações.

O corpo é atacado

Muitos de nossos moradores são hostis, causando doenças. A morte do hospedeiro é desvantajosa para o parasita, mas pode acontecer. Abaixo, alguns parasitas nos diversos habitats que se encontram no corpo:
-Cabeça: piolho ( um ectoparasitas) e ainda o Berne, larva de mosca que se desenvolve na derme e Taenia solium, que sua forma larval  (cisticerco) pode se encontrar no cérebro ( neurocisticercose).
-Sistema circulatório: Schistosoma ( no sistema porta hepático), Plasmodium (reproduzindo-se inicialmente no fígado mas depois nas hemácias) e o Trypanosoma, que pode se estabelecer no coração  causando cardiopatia chagásica. Wuchereria bancrofti se estabelece no sistema linfático, prejudica a drenagem linfática causando edema, mecanismo que em parte explica o aumento da perna na elefantíase.  Vermes podem transitar pelo sangue, como o aqueles que apresentam ciclo pulmonar (precisam passar pelo pulmão para completarem seu desenvolvimento) .
-Nos Pulmões microorganismos podem causar pneumonia e ainda são locais de passagem dos vermes Ancylostoma, Necator, Ascaris e Strongyloides, que apresentam ciclo pulmonar.
-Virilha e  pés são regiões aquecidas e úmidas que favorecem o crescimento fungicos, o que pode levar a micoses.
-Ectoparasitas como carrapatos e ácaros se estabelecem na pele.
-O tubo digestivo pode ser parasitado por vários tipos de organismos. Helicobacter pylori é uma bactéria que pode viver no estômago. Já o intestino, um local menos hostil que o estômago, pode albergar uma grande variedade de microorganismos e vermes. Esses últimos conseguem ai viver graças a certas adaptações, a qual tratamos no texto Adaptações de Endoparasitas.


O Corpo se defende

Diferente de habitats abióticos, o organismo é um habitat responsivo. Ou seja, ele pode responder a agressão, se defendendo. As defesas dos vertebrados podem ser classificadas como defesas inespecíficas ou específicas. As defesas inespecíficas funcionam, como  o nome diz , contra vários tipos de agressores e não dependem de contato prévio  com esses agentes, são por isso chamadas de imunidade natural. Já as defesas específicas se referem ao anticorpo, proteína  que se liga a  antígenos específicos; como ela depende de contato prévio, essa defesa é chamada de imunidade adquirida.
Abaixo, algumas defesas inespecíficas:
-A pele intacta é uma defesa mecânica e também quimica, por ser mais ácida e por produzir secreções antimicrobianas.
-Olhos: lágrimas lavam o olho. Lisozimas são bactericidas.
-Trato respiratório: O tecido epitelial pseudoestratificado ciliado com células caliciformes produz muco que retém particulas, e este muco é removido por cílios (aparato muco-ciliar). Bacterias que cheguem aos alvéolos são atacadas por macrófagos alveolares.
-Trato digestório: acidez do estômago e microbiota indígena
-A uretra é lavada pela urina, que é ácida. A microbiota vaginal, constituida de lactobacilos, realiza fermentação lática, acidificando a vagina.


A corrida armamentista

Hospedeiros que resistem aos parasitas são selecionados, ou seja, sobrevivem.Parasitas que conseguem burlar as defesas do hospedeiro e se reproduzem também conseguem se manter no ambiente, ou seja, são selecionados.  Dessa forma existe um processo de mão dupla: Parasitas selecionam hospedeiros mais resistentes ( ou seja, hospedeiros mais resistentes sobrevivem), e hospedeiros selecionam parasitas mais resistentes ( e menos patogênicos). Isso é um exemplo de coevolução, ou seja, evolução simultânea de duas espécies em relação ecológica. Ocorre uma corrida armamentista em que o surgimento de uma melhoria em um estabelece uma nova pressão seletiva sobre o outro,que pode sobreviver caso também apresente uma nova melhoria.
Um exemplo clássico de coevolução ocorreu na expansão estadunidense, no qual o contato com o homem branco levou a transmissão de novas doenças para os ameríndios, como a tuberculose.  Observe o gráfico abaixo e responda: como explicar o declínio da mortalidade entre ameríndios por tuberculose?
Inicialmente a mortalidade de ameríndios foi alta, mas foi reduzindo com o tempo. Provavelmente, os  sobreviventes eram mais resistentes e, ainda, as bacterias que prosseguiram eram menos patogenicas (bactérias muito patogênicas destroem seu próprio habitat, sendo desfavorecidas). 

Conclusão
O organismo pluricelular é um habitat responsivo de vários micro e macroorganismos que interagem entre si e com o hospedeiro em relações harmônicas e desarmônicas. As relações desarmônicas entre os microorganismos hóspedes favorecem o hospedeiro, já que controlam a população de hóspedes. As relações desarmônicas entre esses hospedes e o hospedeiro levam a pressões seletivas sobre ambos os participantes, o que determina eventos de co-evolução.




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