segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Anexos embrionários

Anexos embrionários são estruturas de suporte do embrião, que, assim como ele,  são originadas do zigoto. Esses anexos são o saco vitelino ( que ocorre nos peixes e amniotas), âmnio , cório e alantóide (esses três são exclusivos dos amniotas, isto é, repteis, aves e mamíferos).

Saco vitelino foi o primeiro anexo embrionário

Surgido nos peixes, o saco vitelino foi a primeira membrana extra-embrionária a surgir, armazenando vitelo para a nutrição do embrião. Esse anexo ainda se mantém inicialmente no alevino, a larva dos peixes. Observe as figuras abaixo:

Saco vitelino em alevinos:

O saco vitelino é ausente nos anfíbios. Nos  mamíferos térios (marsupiais e eutérios),  ele é reduzido porque a placenta assume a função de nutrição. Neles, esse anexo tem uma função hematopoiética, que depois é substituída pelo fígado e posteriormente pela medula óssea vermelha. O saco vitelino  participa da formação da placenta cório-vitelinica comum a todos os térios. Nos marsupiais ela é a unica placenta, enquanto que nos eutérios ela é substituída por uma placenta cório-alantoideia.


Âmnio, alantóide e cório surgiram nos repteis

Os repteis conquistaram o ambiente seco com mais eficiência do que os anfíbios. O surgimento do âmnio foi um dos principais contribuintes para isso, já que impede a desidratação do embrião, permitindo o desenvolvimento embrionário até em ambientes desérticos.  Além disso, o âmnio protege o embrião contra choques mecânicos. O alantóide nos ovíparos armazena excreta (ácido úrico) e se relaciona com o cório permitindo trocas gasosas.


Abaixo, o ovo amniótico com casca foi uma aquisição evolutiva importante para a conquista de ambientes secos pelos vertebrados:


Na figura abaixo, observe a  interação do corion e alantóide  formando a membrana corioalantoica que permite as trocas gasosas:


A placenta permite a viviparidade da maioria dos mamíferos

De maneira semelhante com repteis e aves, cório e alantoide nos mamíferos eutérios se relacionam permitindo trocas entre o embrião e o ambiente externo ao cório.  Os dois anexos formam, junto com o endométrio (a parede do útero),  a placenta, que é parte fetal e parte materna.  Compare, na figura abaixo, os anexos dos  amniotas ovíparos e dos mamíferos:





Como dito, nos mamíferos o saco vitelino é reduzido e o alantóide não tem função de armazenar excretas, mas sim de vascularizar o córdão umbilical. 

São funções da placenta: fixação do embrião, produção de hormônios, trocas gasosas, captação de excretas, nutrição do embrião.


A ausência e o tipo de placenta divide os mamíferos em proto, meta e eutérios

Placenta não é sinapomorfia dos mamíferos, ou seja, não é uma característica exclusiva de toda classe.  Os prototérios (monotremados), como o ornitorrinco, conservam ainda o ovo, uma característica reptiliana.

Os mamíferos térios são os únicos que apresentam placenta. São eles os metatérios e eutérios.

Os metatérios ou marsupiais (canguru, gambá e coala) apresentam, como dito, uma placenta cório-vitelinica, de curta duração, já que o feto nasce ainda sem ter terminado o desenvolvimento, e migra para o marsúpio. Você pode ler mais sobre isso AQUI.

Os eutérios apresentam uma placenta inicialmente coriovitelinica, mas que depois desenvolve-se em córioalantoidea e acompanhará o embrião durante toda  a gestação.

Compare, nas figuras abaixo, a placenta coriovitelinica  ("vascular yolk-sac chorion", em A) e corioalantoidea (em B).

Alguns mamíferos conservam a placenta córiovitelínica depois  da formação da placenta córioalantóidea, como o gato:



Formação dos anexos nos mamíferos

Para entender a formação dos anexos nos mamíferos, você deve dominar os conceitos de blastocisto e gastrulação.

O blastocisto é a blástula dos mamíferos. Toda blastula apresenta uma cavidade, chamada de blastocele. Além dessa cavidade, o blastocisto é divido em trofoblasto e embrioblasto (massa celular interna). Ele é a fase que se implanta do endométrio, o que é realizado pelo trofoblasto.

Observe, na figura abaixo, o trofoblasto, a massa celular interna (embrioblasto) e a cavidade do blastocisto (blastocele):
Observe ,abaixo, que na implantação o trofoblasto invade o endométrio, através  de uma massa sincicial (plurinucleada) chamada de sinciciotrofoblasto (em um fraco amarelo na figura).  A massa celular interna se reorganiza em duas camadas: Epiblasto (em azul) e hipoblasto (em amarelo mais forte). Perceba que o hipoblasto migra em direção a blastocele, cobrindo-a. Essa parede derivada do hipoblasto é chamada de membrana exocelômica. A cavidade revestida por ela é agora chamada de saco vitelino ( em amarelho na figura b).  A cavidade revestida pelo epiblasto (em azul) é o âmnio. Neste momento o embrião tem duas camadas de células , como dito o epi e hipoblasto.


Posteriormente o hipoblasto também formará o alantóide, reduzido nos mamíferos,  que formará os vasos do cordão umbilical. O trofoblasto, estrutura mais externa do blastocisto, participará da formação do cório. Assim:
.Saco vitelino e alantóide originam-se da membrana exocelômica  (camada de hipoblasto que reveste a blastocele).
.Âmnio origina-se do  epiblasto.
.Cório é formado a partir do trofoblasto.

Cório, alantóide e endométrio formarão a placenta.


Biopsias das vilosidades coriônicas e do líquido amniótico

A biopsia das violosidades coriônicas (rede vascular em que cório se relaciona com endometrio) e do líquido amniótico, permite colher amostras de células embrionárias para o diagnóstico de disturbios metabólicos (como fenilcetonúria) ou cromossômicos (como síndrome de Down).

Abaixo, biopsia das vilosidades coriônicas transabdominal e transcervical.




A partir das células coletadas, pode-se fazer o cariótipo da criança:



 Gêmeos podem ou não compartilhar a placenta

Observe, abaixo, caso de gêmeos dizigóticos, que resultam de duas fecundações diferentes. Como há formação de dois blastocistos, ocorrem duas implatantações e, por isso, eles apresentam âmnions, córios e placentas diferentes:


Entretanto, gêmeos monozigóticos, que resultam de uma fecundação, têm apresentações diferentes para os anexos embrionários. Acompanhe na figura abaixo. Caso ocorra a formação de dois blastocistos, ocorrerão duas implatantações e, com isso dois córions e consequentemente duas placentas diferentes. Caso forme apenas um blastocisto com dois embrioblastos, ocorrerá uma implantação, a formação de um cório e uma placenta, podendo haver dois ou um amnio. O ultimo caso apresenta raro risco de adesão entre os embriões, o que caracteriza os gêmeos siameses.


Revisão
Saco vitelino: nutrição do embrião de vertebrados ovíparos (peixes, repteis e aves), sendo ausente nos anfíbios. Reduzido em mamíferos placentários,  mas tem função hematopoiética. Participa da formação da placenta cório-vitelínica dos marsupiais. Esse tipo de placenta também ocorre nos eutérios, mas é substituída pela placenta cório-alantóidea ao longo do desenvolvimento. Origina-se da membrana exocelômica.

Âmnio: proteção contra desidratação e choques mecânicos, reduz a chance de aderência entre partes embrionárias. Surgiu em repteis o que permitiu ao grupo avançar no ambiente seco. Origina-se do epiblasto.

Cório: Envolve os outros anexos e surge do trofoblasto. Trocas gasosas nos amniotas ovíparos, relacionado ao alantóide.  Em mamíferos metatérios forma a placenta cório vitelínica que também pode ocorrer nos eutérios, mas é substituída posteriormente pela placenta córioalantóidea.

Alantóide. Também origina-se da membrana exocelômica. Armazena excretas nos amniotas ovíparos, além de interagir com o cório e permitir as trocas gasosas.  Forma os vasos do cordão umbilical, o que caracteriza a placenta cório-alantóidea dos mamíferos eutérios. 

Para saber mais

Fecundação e embriogênese
Desenvolvimento dos tubarões e órgãos sensórios em peixes
Desenvolvimento dos marsupiais, audição e o salto do canguru

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O que você quer ver no blog da Sala BioQuímica?