sábado, 19 de abril de 2014

Criacionismo, Evolucionismo e bananas

Por Fabio Dias Magalhães


Uma das grandes diferenças do pensamento criacionista para o evolucionista é a crença de que as coisas vivas foram criadas com certa finalidade, o que é a base do design inteligente. Já para evolução a variedade é produzida por eventos ao acaso e aquelas variedades  que permitem maior sucesso sobrevivem.
O video a seguir ilustra um pouco essa visão criacionista:

A banana, "o pesadelo dos ateus"


No vídeo, um senhor defende que a banana foi criada por Deus, e cada parte do fruto foi pensada para melhor servir o homem. É como se a banana sempre tivesse existido,e sempre do mesmo jeito. Essa idéia fixista da diversidade ignora a variedade de bananas que existiram ao longo da história e a intervenção da agricultura que a modificou. Ignora a existência desse fruto com semente, não tão agradável assim e, por isso, não tão proliferado.
Banana selvagem: pouca polpa e sementes duras. Motivos para sua não proliferação pela agricultura.

Esse é  o erro criacionista: acreditar que todas as coisas surgiram do nada, pela intervenção de um Designer Celestial, que projetou e criou a natureza perfeita. E para o homem. Não considera, assim, que a vida se modifica e que existem processos que levaram à diversidade atual.

Esse mesmo pensamento criacionista é aplicado ao corpo.

 O corpo teria uma suposta perfeição, e ele seria  um dos argumentos do design inteligente, ou seja, que o corpo é produto perfeito do projeto de um criador.  E nós professores de biologia temos um pouco de culpa nisso, já que muitas vezes mostramos o corpo como uma máquina de funcionamento perfeito.  Nada mais distante disso. O corpo  tem várias falhas, as quais chamamos de doenças. Obviamente os corpos que conseguem sobreviver e reproduzir apesar de suas falhas são aqueles mais frequentes. A isso chamamos de sobrevivência do mais apto ou seleção natural. Então o termo "normal"  usado para certo corpo é meramente um conceito estatístico, ou seja, é o corpo "mais comum". E é o mais frequente justamente por uma questão de seleção natural: é  o corpo que funciona melhor para certo ambiente.

O conceito de seleção natural foi inspirado em outro conceito, o de seleção artificial.  Essa envolve cruzamentos controlados  e seleção de variedades de interesse humano.  Ela é a base da agricultura e explica porque hoje temos variedades  tão economicamente interessantes apesar de tão pouco aptas a sobreviver sem a intervenção humana. Exemplo disso é a banana, fruto partenocárpico resultado de várias gerações de seleção artificial.  Charles Darwin escreveu sobre os efeitos da seleção artificial em pombos, dentre outros animais. A partir da variedade  encontrada na natureza, o homem replicou aquelas de seu interesse, modificando, assim , as espécies. A partir disso temos as variedades da agricultura, da pecuária, a raciação canina e as praticas de cruzamentos controlados até hoje feitas.

Ora, se o homem pode produzir variedades através de cruzamentos controlados ,  na natureza deve haver algum processo semelhante, em que as espécies se modificam. A partir daí pensou-se em um conceito de seleção natural ou sobrevivência do mais apto.

Não, o corpo não é perfeito e harmônico. Ele é falho. Se as falhas levam a esterilidade, esse corpo não prolifera. Se falhas ocorrem ja na criança, levando a morte, idem. Mas, se essas ocorrem depois da idade reprodutiva, esses corpos conseguem se proliferar. O que vemos hoje não são organismos perfeitos, mas organismos em que seus ancestrais conseguiram sobreviver porque suas características  permitiram sua adaptação ao ambiente.

E não, a natureza não é perfeita e harmônica. Ela é em grande parte desarmônica. E são nessas relações desarmônicas, nessa luta pela sobrevivência, é que o mais apto garante sua reprodução. Sem duvida essa diversidade nos impressiona.  Animais, plantas, os microorganismos, tudo é impressionante.  E assim como as crianças desenham um sol com rosto, personificando a natureza, nós, Homo sapiens, tão novos por aqui, personificamos processos, e pensamos que haja um criador.
Alice explicando a chuva. "Quem colocou a água no céu?" Ela responde "Papai do céu, para chover todo dia". 


E só mesmo primatas para ver uma banana e pensar que ela é uma evidência da existência de Deus...




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